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Aguiar: compreender a história para abraçar o futuro

Atualizado: 24 de ago.

Raízes Milenares e História Local


Desde tempos imemoriais, a terra de Aguiar tem sido palco de vidas e lendas. Muito antes de existirem nomes ou fronteiras, já os primeiros habitantes neolíticos erguiam monumentos de pedra na planície – testemunhos silenciosos de um culto ancestral aos antepassados. A Anta de Aguiar, também conhecida como Anta do Zambujeiro, permanece tombada nos arredores da aldeia, guardando memórias de um passado pré-histórico que se confunde com a própria paisagem de sobreiros e azinheiras.


Por aqui passaram romanos nas antigas vias que ligavam Ebora (Évora) a Pax Julia (Beja) e Salácia (Alcácer do Sal), deixando no solo vestígios de estradas e assentamentos. E passaram também, mais tarde, visigodos e árabes – sopros de culturas diversas que adubaram a identidade local, visível em lendas e topónimos (como Alcáçovas, outrora Al-Qasbah, “cidadela fortificada”).


No dealbar da nacionalidade portuguesa, Aguiar emerge na história medieval como uma pequena vila de fronteira. Em 1269, sob um contexto de reconquista e reorganização do território, o cavaleiro Estêvão Rodrigues outorga a Aguiar a sua primeira carta de foral – garantia de privilégios e autonomia para os moradores. A vila tornou-se sede de concelho em 1287, mantendo um poder local autónomo durante séculos até aos alvores do século XIX.


Sob os sinos da Igreja Matriz de Santa Maria da Assunção – cuja primeira menção data de cerca de 1320 – desenrolava-se a vida comunitária: missas e procissões, mas também reuniões do concelho nas arcadas da antiga casa da câmara, erguida no lado sul da praça com pequeno campanário e cadeia anexa. A água brotava da Fonte do Paço, de onde gerações de aguiarenses encheram cântaros e saciaram a sede.


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Ao longo da Idade Média e Moderna, Aguiar foi quase sempre terra senhorial. Fez parte dos domínios de grandes fidalgos alentejanos: no século XIV foi doada por D. Pedro I a Fernão Gonçalves Cogominho – herói da batalha do Salado – e mais tarde integrou os vastos bens da família Lobo da Silveira, senhores de Alvito. Sob o mecenato destes barões e condes, a vila mantinha os seus juízes e vereadores, embora sujeitos ao ouvidor nomeado pelo senhor.


Ainda assim, o espírito comunitário florescia. No século XVIII havia em Aguiar várias confrarias religiosas – irmandades que não só dinamizavam as festas e procissões, como serviam de rede de solidariedade entre vizinhos. Nem os abalos da história pouparam a terra: em 1755, o grande sismo de Lisboa fez tremer também Aguiar, abrindo fendas ligeiras em algumas casas – felizmente logo reparadas. E nas primeiras décadas do século XIX chegaria a mudança administrativa que redefiniria o destino local: em 1836, o pequeno concelho de Aguiar foi extinto e incorporado no de Viana do Alentejo, tal como o vizinho concelho de Alcáçovas.


Património e Tradições do Concelho


Com a integração no concelho, as histórias de Aguiar passaram a entrelaçar-se com as de Viana do Alentejo e Alcáçovas, as outras duas freguesias desta terra de alma alentejana.


A sede municipal, Viana do Alentejo, tem também as suas origens mergulhadas na história: algumas lendas recuam a 300 a.C., falando de celtas e de um castro primitivo no alto de São Vicente. Certo é que no reinado de D. Dinis, a povoação de Viana ganhou novo ímpeto. Em 1313, D. Dinis recuperou Viana para a Coroa e concedeu-lhe foral, autorizando de seguida a construção de um castelo para defesa da praça. Das muralhas de planta octogonal, ainda hoje imponentes, ecoam ecos desses tempos medievais.


Nos séculos seguintes, Viana cresceu como centro local – palco de mercados e feiras – enquanto Alcáçovas se notabilizava pela sua nobreza e indústria. Nesta última, o Paço dos Henriques guarda memórias de cortes e convenções: ali se negociaram alianças e tratados como o de Alcáçovas-Toledo (1479), que dividiu os mundos além-mar entre Portugal e Castela. Já em 1973, na herdade do Monte do Sobral, um encontro discreto do MFA semeou a revolução que mudaria Portugal.


Entretanto, o povo manteve vivas as tradições comunitárias. A economia rural sempre foi a espinha dorsal: gerações de agricultores semearam trigo, colheram azeitona e pisaram uvas. Nas noites de verão, erguiam-se os cânticos do Cante Alentejano, hoje património da humanidade.


Viana ganhou fama pela sua olaria tradicional, enquanto Alcáçovas se notabilizou pelo fabrico artesanal de chocalhos – também reconhecido pela UNESCO. Estas artes, a par do raro mármore verde, são símbolos do concelho.


No campo do sagrado, Viana do Alentejo destaca-se pelo Santuário de Nossa Senhora d’Aires, destino de romarias e da famosa Romaria a Cavalo, que liga a Moita até Viana. Em Aguiar, a devoção é a Nossa Senhora da Assunção, celebrada a 15 de agosto com procissão, festa e comunidade reunida.


Da Vila Antiga ao Futuro – A Chegada da Creche YMCA


Hoje, a freguesia de Aguiar mantém-se pequena em população mas enorme em orgulho das suas origens. Depois de um longo hiato, recuperou a autonomia administrativa em 1985, voltando a ter voz própria dentro do concelho de Viana do Alentejo.


Apesar dos avanços, Aguiar enfrenta o desafio do envelhecimento e da desertificação rural. Trazer esperança no futuro implica cuidar das novas gerações e apoiar as famílias jovens.

É neste contexto que se escreve o mais recente capítulo: a chegada da Creche YMCA de Aguiar.

Resultado de uma parceria entre a Santa Casa da Misericórdia, a YMCA e o Município de Viana do Alentejo, com apoio das juntas de freguesia, este novo espaço educativo abre oficialmente no dia 15 de setembro de 2025.


A creche terá capacidade inicial para 20 crianças, oferecendo um ambiente pedagógico moderno, seguro e afetuoso. Para as famílias locais, significa apoio concreto, confiança e a possibilidade de conciliar vida profissional e familiar.


Sob o ponto de vista simbólico, a Creche YMCA Aguiar representa um elo entre passado, presente e futuro. Assim como outrora se celebravam colheitas e festas, hoje celebra-se a abertura desta creche como sinal de esperança renovada.


Em cada criança que ali entrar ecoará um pouco da alma de Aguiar e Viana do Alentejo – uma alma feita de memória, identidade e fé num amanhã melhor.



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Notas bibliográficas

  1. Espanca, Túlio – Inventário Artístico de Portugal, Distrito de Évora, 1981.

  2. Câmara Municipal de Viana do Alentejo – Documentação histórica e cultural (consultada em portais municipais).

  3. Diário da República, Decreto-Lei n.º 39/1985 – Restituição da freguesia de Aguiar.

  4. Património Cultural – Anta de Aguiar, Igreja de Santa Maria da Assunção, Paço dos Henriques.

  5. UNESCO – Reconhecimento do Cante Alentejano e do fabrico de Chocalhos.

  6. Associação da Romaria a Cavalo Moita–Viana – Registos históricos da tradição.

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