top of page
triangulo vermelho 4.jpg

1894 a 2024

Origens e Expansão

1894-1920

A YMCA chegou a Portugal em 14 de novembro de 1894, quando o jovem metodista Alfredo Henrique da Silva, com apenas 20 anos, fundou no Porto a primeira União Cristã da Mocidade (UCM). Inspirado pelo modelo nascido em Londres em 1844, trouxe consigo a mesma visão de desenvolvimento integral – espírito, mente e corpo – que o triângulo vermelho simbolizava.

A iniciativa propagou-se com rapidez. Em 1898, Lisboa inaugurou a sua própria associação; em 1905, foi a vez de Setúbal, e em 1918, Coimbra formalizou a sua UCM a partir da Associação Cristã de Estudantes criada em 1916. Estes núcleos iniciais criaram uma rede nacional embrionária que, já em 1901, deu origem à Aliança Nacional das ACM, primeira estrutura de coordenação do movimento no país.

Ainda que os registos da época não sejam exaustivos, é claro que o movimento se multiplicou para além destes quatro núcleos. A existência de uma Aliança Nacional em 1901 e a realização de congressos já na década de 1920 indicam que o número de associações era superior, provavelmente entre cinco e sete, espalhadas por várias localidades. Esse crescimento precoce mostra que, ainda antes de 1920, a YMCA em Portugal tinha alcançado escala suficiente para se afirmar como rede nacional.

O impacto fez-se sentir também no desporto e na cultura. Foi pela mão da YMCA que chegaram a Portugal modalidades como basquetebol, voleibol e ténis de mesa, mais tarde o futebol de salão (futsal) e até o andebol. Desde cedo houve esforços para criar equipas e campeonatos internos, ligando prática desportiva a valores educativos. Estas modalidades tornaram-se parte do legado incontornável da YMCA em Portugal.

Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a YMCA respondeu ao apelo internacional e fundou o Movimento do Triângulo Vermelho, através do qual apoiou soldados portugueses em França e, depois, em Lisboa, Porto e Coimbra. Com cantinas, bibliotecas, cinema, música e apoio espiritual, os pavilhões da YMCA foram verdadeiros refúgios em tempos de guerra. A importância desta ação foi reconhecida oficialmente, ficando assinalada em Lisboa com a designação da Rua do Triângulo Vermelho em 1922.

A década de 1920 marca assim o auge da primeira fase da YMCA em Portugal. Além de expandir núcleos e consolidar a Aliança Nacional, o movimento editou a revista Triângulo Vermelho e foi capaz de organizar encontros juvenis que reuniam largas centenas de jovens. Estes encontros, com forte visibilidade pública, mostravam a capacidade do movimento em mobilizar juventude em grande escala, num ambiente de ecumenismo e fraternidade raro no país da época.

A YMCA em Portugal entrava nos anos 20 como um movimento dinâmico, inovador e enraizado em várias cidades, tornando-se uma plataforma única de desenvolvimento pessoal e comunitário.

triangulo vermelho
triangulo vermelho 6
triangulo vermelho 1
triangulo vermelho 2
triangulo vermelho 3
triangulo vermelho 4
triangulo vermelho 5

O Estado Novo e a Mocidade Portuguesa

1930-1974

Com a instauração do Estado Novo em 1933, a YMCA em Portugal entrou numa das fases mais complexas da sua história. O regime autoritário de Salazar via com desconfiança associações juvenis independentes e ecuménicas, preferindo assumir diretamente o controlo da formação da juventude.

Em 1936, foi criada a Mocidade Portuguesa, uma organização obrigatória para crianças e jovens, inspirada em modelos fascistas europeus. O novo organismo estatal ocupava o espaço extracurricular, impondo disciplina nacionalista e militarizada. Na prática, significou a apropriação, pelo regime, de funções que antes eram desempenhadas por associações como a YMCA, que ficaram reduzidas a um papel marginal.

A consequência foi uma retração significativa da YMCA em todo o país. Muitos núcleos perderam dinamismo, e a própria Aliança Nacional das ACM entrou em colapso, deixando de ter expressão real. Ainda assim, algumas associações resistiram, cada uma à sua maneira:

  • Lisboa: manteve-se ativa durante todo o Estado Novo, ainda que de forma limitada. Apesar de nunca ter cessado atividade, viu-se desligada das estruturas internacionais por não cumprir os princípios do Tratado de Paris (1855) – documento fundador da YMCA mundial, que exige unidade, cooperação ecuménica e alinhamento com os valores globais. Lisboa conservou instalações próprias e alguma programação, mas ficou isolada da rede internacional.

  • Coimbra: adaptou os seus estatutos em 1959 para se enquadrar nas exigências legais da ditadura, mas conseguiu preservar atividades desportivas e culturais. Foi um dos poucos núcleos a manter vitalidade contínua e a honrar o legado YMCA, especialmente no campo desportivo.

  • Porto: viu o movimento esvaziar-se quase por completo, reduzindo-se a uma presença meramente simbólica.

  • Setúbal: desapareceu formalmente durante a ditadura. Contudo, no Bairro Salgado, um padre metodista manteve viva a chama do movimento de forma discreta, transmitindo valores comunitários e a memória da YMCA. Foi essa semente, preservada ao longo de décadas, que mais tarde permitiu ao fundador da YMCA de Setúbal relançar o movimento na cidade após a Revolução de 25 de Abril.

Apesar da repressão e das restrições legais, a YMCA continuou a deixar marcas indiretas, sobretudo no desporto. As modalidades introduzidas pela YMCA no início do século – basquetebol, voleibol, ténis de mesa, futsal e andebol – foram-se enraizando em escolas e clubes locais. A influência direta do movimento diminuía, mas o seu impacto cultural e desportivo permanecia presente no quotidiano português.

Este período pode ser descrito como de resistência silenciosa. A YMCA em Portugal não desapareceu, mas foi obrigada a sobreviver à margem, sem capacidade de articulação nacional e sem reconhecimento internacional. Foi apenas com a Revolução de Abril de 1974 que o movimento encontrou finalmente a liberdade para se reorganizar, reaproximar-se das suas raízes e retomar o caminho da cooperação global.

acm lisboa 3
acm decada 40 1
acm decada 40
Fundador Escoteiros Portugal ACM
acm 1949
acm decada 40 3
acm 1947
acm 1949 3
acm 1948

Reconstrução, Património e Tentativas de Refundação

Pós-25 de Abril até 2013

A Revolução de 25 de Abril de 1974 devolveu a liberdade de associação, criando finalmente condições para que a YMCA em Portugal pudesse reorganizar-se. Nas décadas seguintes, diferentes associações foram retomando ou reconstituindo atividades em várias localidades. Algumas conseguiram afirmar-se no campo social e comunitário, outras encontraram no desporto a sua principal via de ação, e outras sobreviveram sobretudo pela memória histórica que preservavam.

Neste novo contexto democrático, a YMCA internacional viu em Portugal um espaço de enorme potencial e apostou fortemente no seu crescimento. A YMCA do Brasil e a YMCA dos Estados Unidos canalizaram para o país cerca de três milhões de contos (o equivalente a dezenas de milhões de euros atuais). O objetivo era claro: criar uma base patrimonial sólida que gerasse receitas sustentáveis para financiar a missão social no território português. Esse investimento traduziu-se sobretudo em empreendimentos turísticos em regime de time sharing, dos quais se destacaram:

  • O Aldeamento da Balaia (Algarve), com cerca de 140 apartamentos e moradias;

  • Um grande empreendimento em Sesimbra, com aproximadamente 200 apartamentos;

  • Outros projetos de menor dimensão em várias regiões do país.

Em paralelo, foi feita uma tentativa de expandir nacionalmente os campos de férias YMCA. Inspirados nos modelos internacionais, esses campos procuravam proporcionar a crianças e jovens experiências únicas de vida comunitária, contacto com a natureza, educação em valores e desenvolvimento de liderança. Chegaram a mobilizar milhares de participantes e dirigentes, sendo vistos como um instrumento privilegiado para formar novas gerações. No entanto, à semelhança dos projetos patrimoniais, também aqui a ausência de uma coordenação nacional forte impediu que o movimento consolidasse uma rede duradoura de campos de férias em Portugal.

Se este património e estas iniciativas tivessem sido geridos com competência, transparência e visão estratégica, a YMCA em Portugal estaria hoje posicionada entre as mais relevantes instituições não lucrativas do país. No entanto, a Aliança Nacional, que deveria assegurar a gestão e a coesão do movimento, não foi capaz de cumprir essa missão. A falta de liderança clara, de capacidade técnica e de articulação entre os núcleos resultou na perda de uma oportunidade histórica para o movimento.

Ainda assim, a YMCA resistiu. Apesar de disperso e sem uma federação funcional, o movimento manteve viva a sua presença através de núcleos locais e da ligação com o movimento internacional. Já no início dos anos 2000, realizaram-se encontros nacionais pontuais, como assembleias em Belmonte e reuniões em torno do património da Balaia. Esses momentos representaram, ao mesmo tempo, o fecho de um ciclo marcado por falhas e frustrações e a manifestação de vontade em escrever um novo capítulo para a YMCA em Portugal.

Essa nova etapa começou a ganhar forma em 2011, quando foi criada formalmente a YMCA Portugal (Associação Cristã da Mocidade de Portugal), reconhecida pela Aliança Mundial como o regresso oficial do país ao movimento global. A fundação tinha como objetivo reconstruir uma aliança nacional, reunir os diferentes núcleos e restabelecer a filiação internacional.

Apesar das intenções, a federação nunca chegou a consolidar-se plenamente. As divergências internas, a desigualdade no desenvolvimento das associações e a falta de recursos inviabilizaram a criação de uma estrutura nacional sólida. Ainda assim, Portugal voltava a estar representado, pelo menos no plano formal, no seio do movimento internacional.

O entusiasmo renovou-se em 2013, com a realização da Open Week em Setúbal, que reuniu delegações da Holanda, Espanha, Brasil e Venezuela, além de representantes da YMCA Europa e Mundial. Mais do que um evento local, a Open Week simbolizou a abertura da YMCA em Portugal ao mundo e mostrou ao movimento internacional que, apesar das fragilidades, em Portugal havia energia e vontade de recomeçar.

Assim, entre 1974 e 2013, o percurso da YMCA em Portugal foi feito de reconstrução e perda, esperança e frustração. Um período de altos e baixos que, apesar das dificuldades, manteve viva a identidade do triângulo vermelho e preparou o terreno para a transformação que se seguiria.

acm portugal
open day
open day comemoração 169º
ymca europe portugal
acm lisboa
acm lisboa 2
ACM Madeira 2016
balaia acm

Entre a Representação Formal e a Procura de Liderança

2013 a 2023

A Open Week de 2013, embora organizada pela YMCA em Setúbal, foi mais do que um evento local. Representou um marco simbólico na história da YMCA em Portugal: pela primeira vez em décadas, o movimento afirmava de forma clara o desejo de estar voltado para o mundo. Até então conhecida sobretudo como ACM, a instituição mantinha uma porta aberta para a cidade e para o serviço comunitário; com este encontro internacional, abriu-se uma segunda porta, agora para o Movimento Global da YMCA.

Este evento foi determinante porque consolidou a visão de que a YMCA em Portugal poderia e deveria ser uma porta de dois caminhos: de um lado, para receber jovens estrangeiros e experiências vindas das diversas YMCA espalhadas pelo mundo; do outro, para enviar jovens portugueses a viver intercâmbios e aprendizagens na rede internacional.

Apesar do entusiasmo gerado, a década seguinte revelou que o modelo federativo não seria a via para relançar o movimento no país. Entre 2013 e 2023, ficou claro que, se a YMCA pretende crescer em Portugal, isso acontecerá através de uma estrutura nacional coesa e sustentável, e não de uma federação frágil e dispersa.

Durante este período, algumas associações mantiveram trabalho de referência. Em Coimbra, o desporto continuou a ser a principal área de atuação, mantendo viva a tradição acemista. Já na Ilha Terceira, a YMCA distinguiu-se pelo desenvolvimento de programas de grande impacto social, incluindo a promoção do desporto adaptado com jovens atletas de nível paralímpico, bem como serviços e projetos inovadores dirigidos a pessoas com diferentes tipos de necessidades específicas, favorecendo a inclusão e a participação ativa.

Entretanto, outras entidades que ainda utilizam a sigla ACM ou YMCA no território português não são reconhecidas pelas alianças Europeia e Mundial, permanecendo à margem do movimento global.

Assim, os anos de 2013 a 2023 marcaram uma viragem estratégica: de um lado, o reforço da dimensão internacional e da visão global da YMCA em Portugal; do outro, a constatação de que apenas uma nova estrutura nacional, enraizada mas aberta ao mundo, poderia assegurar o futuro do movimento no país.

towards
Design sem nome (25)
ngs metting
internacional trabalho ymca
Captura de ecrã 2025-09-29 152131
Camps Portugal international
Camps Portugal

O Nascimento da YMCA Portugal... em breve

2024 em diante

O ano de 2024 marca o início de uma nova etapa para a YMCA em Portugal. Depois de décadas de tentativas federativas inconclusivas e de um movimento fragmentado, tornou-se evidente que o futuro não passaria por um modelo clássico de federação, mas sim por uma estrutura nacional coesa, capaz de assegurar sustentabilidade, impacto social e alinhamento com os valores do movimento global.

É neste contexto que a YMCA Setúbal, já consolidada como o núcleo mais sólido do país, avança para a sua transformação em YMCA Portugal. Este passo histórico foi dado com o apoio e incentivo da YMCA Europa, através da sua área de Movement Strengthening, que tem como missão reforçar associações nacionais e apoiar processos de crescimento e reorganização em diferentes países.

O modelo agora em construção não é federativo nos moldes tradicionais, mas sim nacional e integrador, permitindo contudo uma dinâmica mista, em que associações locais poderão colaborar e integrar-se caso demonstrem condições para se alinhar com os princípios da Base de Paris e com as boas práticas internacionais.

Já com a abertura de novos centros em Aguiar (Viana do Alentejo) e em Faro, a YMCA Portugal começa a expandir o seu impacto para além da península de Setúbal, afirmando-se como uma organização de alcance verdadeiramente nacional.

Este novo ciclo procura, finalmente, cumprir o potencial que durante décadas permaneceu por realizar: consolidar a YMCA em Portugal como uma das mais relevantes organizações sociais do país, reconhecida pela sua capacidade de trabalhar com crianças, jovens, famílias e comunidades.

Resiliente e otimista, a YMCA Portugal nasce em 2024 como herdeira de uma história iniciada em 1894, mas também como uma organização renovada, que olha para o futuro com ambição, enraizada nos valores da YMCA e aberta ao mundo.

bottom of page