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Foto do escritorA. Malveiro, Marketing

Saúde Mental e Género

Este é um tema que teríamos muito o que falar e muito por resolver.

Primeiramente, teremos de desconstruirmos os termos de Saúde Mental e Género.


Saúde Mental tem de ser conhecido não como o fim, mas sim como o inicio. Isto porque, quando falamos em Saúde Mental, devemos saber o que significa. Falarmos de Saúde Mental não significa estarmos a falar (como a gíria diz) de pessoas “malucas”. Da mesma forma que a “saúde” não é apenas a ausência de doença, também a saúde mental é mais do que apenas a ausência de perturbação mental. Tem de ser compreendida como um produto de múltiplas e complexas interações.



Cerca de 50% dos adultos tende a sofrer de doença mental em algum momento da sua vida. Mais de metade, dessas pessoas, sentem sintomas de moderados a graves. A saúde mental é caracterizada por um estado de bem-estar, no qual uma pessoa é capaz de apreciar a vida, trabalhar e contribuir para o meio em que vive ao mesmo tempo em que administra suas próprias emoções. Porém para isso existem fatores que a mantém estável:

  • Genética;

  • Biológicos;

  • Psicológicos;

  • Ambientais (inclui fatores sociais/económicos e culturais).


No que diz respeito à genética, temos de olhar para a herança familiar de transtornos mentais que possam ter havido e ponderar que essa herança possa levar a conclusões.

No âmbito da parte biológica, tomamos a atenção a parte genética que possa herdar e o funcionamento do cérebro.

Porém, temos a componente psicológica que é revelada pelos comportamentos negativos que a pessoa tende a ter perante um obstáculo e/ou trauma no percurso da sua vida e que não tem “ferramentas” para ultrapassar com facilidade.

Por fim, temos o fator ambiental que influencia o bem-estar do individuo. Aqui podemos alar de vários pontos:


Emprego: a estabilidade laboral, tal como a satisfação no trabalho, estão relacionadas com melhores níveis de saúde e bem-estar. Ao invés, o desemprego está associado a maiores níveis de doença e mortalidade precoce. A insegurança laboral, o receio de perder o emprego e a consequente vulnerabilidade, associam-se a baixa auto-estima e a sentimentos de humilhação e desespero, especialmente em contextos de falta de suporte social, nos quais a situação de desemprego pode levar à carência dos bens essenciais, nomeadamente alimentação, para o próprio e para a sua família. Esta situação associa-se a elevadas taxas de ansiedade e depressão;



Educação: um maior nível de educação permite o acesso a empregos melhor remunerados, melhores condições de habitação, conduzindo a uma maior inclusão social. Por outro lado, um nível educacional baixo poderia ser um marcador de condições adversas na infância, ou de um nível socioeconómico baixo. No entanto, esta ideia não é consensual e algumas perspetivas revelam que não é a educação que traz instabilidade, mas sim o rendimento. No entanto (se pensarmos bem), um baixo nível educacional, associado com outros fatores que, geralmente, lhe estão associados (desemprego, pobreza, exclusão social), pode constituir uma barreira difícil de transpor no acesso aos cuidados de saúde naqueles que, em virtude destes fatores, se encontram já em maior risco de desenvolver uma perturbação mental;



Pobreza: traduz-se por um baixo nível socioeconómico, privação, más condições de habitação, desemprego, baixa escolarização e baixa coesão familiar. Não sou, no entanto, de acordo que se referem, apenas, a países sub-desenvolvidos, pois é uma realidade presente em muito desenvolvidos. Aqui podemos ver algumas dimensões em que a pobreza “arrasta” à possibilidade de ter doença mental, já que o baixo nível socioeconómico repercute a ter níveis de ansiedade e stress mais elevados. A pobreza também condiciona barreiras no acesso aos serviços de saúde (não só no que se refere à prestação de cuidados de saúde mental especializados, como também para os cuidados de saúde primários), verificando-se sérias limitações especialmente nos segmentos da população socialmente mais desfavorecidos;



Discriminação Sexual e Violência de Género: o género tem influência sobre muitos dos determinantes da saúde mental, nomeadamente, a posição socioeconómico, o acesso a recursos, papéis sociais e status. Têm sido criados vários pressupostos para explicar a grande percentagem de depressões e perturbações de ansiedade nas mulheres. A parte biológica é de imediato apontada porque está relacionada com os aspetos hormonais, mas não podemos descurar os fatores psicológicos e sociais que são extremamente relevantes. Isto porque, tem a ver com os vários papéis que a mulher desempenha na sociedade: mãe, esposa e trabalhadora.



Aqui, podemos concluir que, conhecermos os fatores sociais e económicos, é extremamente importante, para que, deste modo, possamos construir ferramentas e políticas de saúde que vá ao encontro das melhores respostas possíveis no âmbito da prevenção. Porém, não podemos descurar dos fatores genéticos e biológicos, anteriormente, referidos.

No Programa Nacional de Saúde Mental, temos a visão de “Assegurar a toda a população portuguesa o acesso a serviços habilitados a promover a sua saúde mental, prestar cuidados de qualidade e facilitar a reintegração e a recuperação das pessoas com doenças mental”. Foi? Será? Não sendo desmotivadora, mas no concelho em que vivo (Setúbal) não temos nenhum psicólogo no SNS e apenas dois pedo-psiquiatras. Portanto.....! Deixo aqui o pensamento sobre esta visão pretendida pelo Estado.


Entramos na parte do conceito de Género. O que é o Género?

Num artigo, “Gênero, o que é isso?”, de 1995, Maria Eunice Figueiredo Guedes destaca quatro definições:

a. “qualquer agrupamento de indivíduos, objetos, ideias, que tenham caracteres comuns”. – Dicionário Aurélio, 1986.

b. “uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado”. – Gates, citada por Scott, 1995.

c. “gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos… o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder.” – Scott, 1995.

d. “uma forma de entender, visualizar e referir-se à organização social da relação entre os sexos.” – Guedes, 1995.

Todavia, devemos compreender que Género não é a atribuição de masculino ou feminino, mas enfatizar que diz respeito a construções sociais e não naturais. Podemos exemplificar a questão de Género por uma frase muito ouvida: “Arrumar a casa é coisa de mulheres!”. Denotamos a questão de género: se o que caracteriza “ser mulher” são, simplesmente, características biológicas e anatómicas, não há razão para alguém atribuir uma atividade especificamente às mulheres.


Depois, podemos entrar no campo de Identidade de Género que, muitas vezes, as pessoas confundem com a questão de Género. A identidade de género diz respeito ao género que a pessoa se identifica. Algumas pessoas identificam-se com um género diferente do que é imposto a elas em função de seu sexo biológico.



Não podemos deixar de falar sobre a Construção Social do Género, porque é algo preocupante e que leva às questões de saúde mental que abordaremos mais à frente. Achamos que a realidade dos homens serem a parte da família responsável de trazer dinheiro para casa para sustentar a família e que as mulheres são as cuidadoras do lar e únicas responsáveis da educação dos filhos é algo passado, contudo ainda presenciamos essa realidade nos dias de hoje. Por questões económicas (países desenvolvidos ou não) ou por questões culturais (ex: etnia cigana), esta realidade ainda está presente. Cada vez mais, falamos da luta pela igualdade entre homens e mulheres, mas sinto que ainda estamos longe do ideal e acabamos por radicalizar temas e desvirtuar do objetivo principal que é a dignidade humana sem colocar em causa a questão do sexo biológico.


Existe, ainda, polémica na explicação das diferenças no funcionamento mental entre género. Esta situação, faz com que “apareçam” pontos de interrogação na reflexão, pois em pleno século XXI e ainda existem tantas dúvidas sobre o tema. Neste ponto, chego à conclusão, infelizmente, que a luta da igualdade e equidade do papel da mulher será permanente.



Existem estudos que tentam explicar esta relação com indicadores psicossociais que influenciam, inevitavelmente, a expressão da Saúde Mental.

A mulher é vista como portadora da depressão e ansiedade como resposta a lidar com o stress da vida; enquanto o homem, manifesta este estado de ausência de controlo de stress, pelas drogas ou suicídio. Se pararmos para refletir o que nos rodeia, é “tolerante” e “normal” a mulher estar deprimida e o homem ser alcoólico, mas o contrário será uma realidade impensável. Vivemos numa sociedade em que: o homem ao manifestar depressão é algo de fraqueza, aquando a mulher ser alcoólica, ela será sempre uma leviana.


Podemos ponderar que, na atualidade, a mulher tem mais peso nos estudos levantados sobre o tem da Saúde Mental, porque desempenha variados papeis que crescem com a evolução da sociedade. Para além, da responsabilidade sobre a educação dos filhos, gestão do lar, também, acresce a preocupação com a carreira que tenta construir, trazendo mais stress ao que já carregava anteriormente. Também, não esqueçamos que a mulher é quem mais procura ajuda médica, porque os homens consideram que essa procura é um elemento de fraqueza.

Todavia, esta relação dos papéis sociais, género e perturbações mentais é alvo de muita discussão entre os vários investigadores.


Depois entramos numa questão abordada na formação que foi a diferença dos fármacos entre as mulheres e os homens. Mas qual diferença? Confesso que fiquei incrédula em saber que os fármacos que tomo são testados apenas em animais e homens. Como assim?! Eu, enquanto mulher, com uma condição biológica diferente à do homem, não tenho direito a ter um fármaco testado num corpo de uma mulher? Portanto vejamos: eu começo tomar aspirina, entretanto tenho uma reação que faz com que não possa tomar mais; o médico diz que sou alérgica, mas nunca pararam para pensar que talvez os componentes da aspirina não serão eficazes na biologia da mulher! Como se falou: a saúde para a mulher é a do “biquini” (seios e útero).



Segundo conclusão do mestrado, de Rita Nogueira de Aquino Pires, no INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE EGAS MONIZ, “As limitações no conhecimento das diferenças entre géneros estão em grande parte relacionadas com o facto de que só a partir dos anos 90 as mulheres passarem a fazer parte da investigação clínica, uma vez que até então eram excluídas e os resultados extrapolados. Porém, apesar das novas diretrizes elaboradas pela FDA e INS, ainda poucos são os estudos que seguem os regulamentos, talvez porque ao incluir a mulher acarreta outros fatores que no homem não precisariam de ser incluídos, como as oscilações hormonais associadas ao ciclo menstrual.” Será? Fica dúvida se será apenas pelas “oscilações hormonais associadas ao ciclo menstrual”.


Muito poderia escrever, mas quero salientar que muito existe, ainda, por debater.

Em suma, tudo parte da mudança da consciência de cada um e cabe a nós, cidadãos do mundo, educar para a interrogação. Ou seja, temos de criar os nossos filhos para questionarem sobre a Vida e não incutir estereótipos e preconceitos, tentando moldá-los para o dito “normal”. Mas o que é o “normal”?


Na minha casa o papel do homem e o papel da mulher não são diferentes, mas somos pessoas diferentes. Não existe o papel de “ajudar”, mas sim o papel da partilha: partilhamos o mesmo espaço, partilhamos a educação do filho, partilhamos experiências pessoas e profissionais, partilhamos lazer, partilhamos funções na vida familiar. O meu pensamento não é o certo, mas tenho a certeza que ao debatermos sobre estes assuntos, traz a reflexão e abertura para a mudança.

Esta formação trouxe reflexão, porque todos nós que participámos somos diferentes, com idades diferentes, experiências de vida diferentes, profissões diferentes, mas tinhamos uma coisa em comum: não éramos mulher e um homem, mas sim cidadãos do mundo.

Espero que a minha reflexão, sobre a minha participação na Formação sobre a Saúde Mental e Género, possa ir ao encontro de outras reflexões!

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